Nos primeiros dias de março de 1985, acompanhei Ronaldo Cunha Lima em seu périplo pelo interior, fazendo palestras sobre vida e obra de Augusto dos Anjos.

O poeta, ainda prefeito de Campina Grande, tinha objetivo maior: Governo do Estado. E essas palestras também eram uma forma de penetrar nas bases, ter contato com lideranças locais e, sobretudo, a juventude, que se encantava com a presença de Ronaldo.

Afinal, a época era dura e tinha município que as lideranças se escondiam para não serem vistas junto do poeta, um político de oposição em pleno regime militar, e assim, contrariar o então governador, Wilson Braga.

Essas viagens, vez por outra, tinham como base a casa do anfitrião maior na região de Patos, o deputado Edivaldo Mota.

Assim, no retorno de uma dessas viagens, terminamos o café da manhã e ficamos conversando na casa de Edivaldo sobre o novo momento político.

Estávamos no final de fevereiro e, em janeiro, Tancredo Neves houvera sido eleito presidente da República, derrotando Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral. Era o fim da ditadura e novos tempos – depois cognominado de a “Nova República” – , prenunciavam um venturoso amanhã.

A conversa ia bem, num tom de otimismo, quando entra em cena a ex-prefeita de Patos, ex-deputada, Francisca Mota, que na época so cuidava da carreira do marido e não pensava em ser política.

– Realmente, a coisa vai melhorar. Mas vejam bem: Sarney, esse vice de Tancredo, veio da Arena, Frente Liberal, um dos apoiadores desse regime. E se Tancredo morrer? O Governo cai no colo deles de novo!

Fez-se um silencio, seguido do coro: bota essa boca prá lá!

Passados poucos dias desse café-premonição, mais precisamente no dia 14 de março de 1985, um dia antes de tomar posse como presidente da República, Tancredo Neves, em quem o País depositava todas as esperanças, internou-se com fortes dores.

Acabou morrendo no dia 21 de abril de 1985, criando uma comoção nacional.

Sim, e como vaticinou Chica Mota, o Governo caiu no colo Sarney e et caterva !