A morna noite patoense estava aquecida ainda mais pela verve dos oradores daquele comício histórico. Naquele momento, a voz morosa e firme do então governador João Agripino penetrava na massa em forma de desafio, quase abafada pela ressonância das palmas.
Pé direito sobre o gradil do caminhão que servia de palanque, microfone em punho, gestos medidos, numa coreografia ímpar, João ordenava:

  • Dêem o microfone ao povo! Eu quero ouvi-lo. Triste do governador que não escuta o seu povo…
    Logo apareceu, no meio da multidão, a vítima do Governo a chorar seus prantos:
  • Governador, o meu filho, homem de bem, sem qualquer motivo, foi agredido barbaramente por um soldado da Polícia. O senhor manda sua Polícia bater no povo?
    Um silêncio sepulcral se fez presente, calando a massa estática.
  • O senhor sabe o nome desse soldado? – indagou em tom de inquisição, João Agripino.
  • Sei. É soldado tal, número tal, de tal destacamento, e mora na rua tal e pertence a tal Batalhão!
  • Pertencia! – adiantou João, complementando:
  • Mandarei expulsá-lo amanhã mesmo. A Polícia no meu Governo não é para bater no povo, que paga seu salário.
    Atendido em sua reclamação, o popular, exultante, gritou em forma de agradecimento:
  • Ô mago forte!
  • Sim, so sou magro, mas sou forte. Não tenho a doença que me atribuem e no meu governo que manda sou eu – ditou João Agripino.
    De súbito, eclodiu do meio da massa, uma voz tão solitária quanto potente:
  • Muito bem governador! Cachorro magro é o que é bom de caça!