O ano era 1979. Cidade, Campina Grande. Ele entrou fagueiro no gabinete do prefeito. Distribui apertos de mão e sorrisos afáveis. Foi adentrando com o intuito de falar com o então prefeito, Enivaldo Ribeiro. Tinha uma pendência a resolver.
Atraído pela presença da visita, o chefe de Relações Públicas, Ivan Sodré, um lorde inglês de refinado trato, fechou seu exemplar de “Trabalhadores do Mar”, jogando Victor Hugo momentaneamente na gaveta apinhada de correspondências a responder. Conferiu o vinco da calça e o alinhamento capilar no brilho do sapato e foi ao encontro do visitante… Com toda simpatias e os equívocos da mente.
– Deputado, como vai essa força?! A casa é sua, fique à vontade! Entre perplexo e surpreso, o visitante se preparava para desfazer o equívoco, quando Ivan tolheu-lhe a iniciativa, oferecendo a primeira xícara que encontrou sobre a mesa de reunião.
– Tome um vinhozinho para esquentar!
Diante de tanta presteza, o visitante, mecanicamente, levou a xícara à boca, esvaziou-a e caiu duro! O corpo tremia e o aspecto era inquietante. Ivan, que estava mais para Platão do que para carrasco de Sócrates, apavorou-se com o quadro:
– Será que era cicuta? – indagou-se.
Instalado o pânico no gabinete, Ivan tenta reanimar o homem.
– Amigo velho, acorde! Respire fundo que isso passa!
E nada.
– Chamem uma ambulância! – gritou um dos presentes.
O alvoroço era geral. O barulho despertou o chefe de gabinete, o poeta Antônio Simões, que se desvencilhou de uns seis mil telefones e foi tomar pé da situação. Deparou-se com o homem agonizando, sem reação e Ivan ao lado, com cara de remorso.
– Pelas barbas do profeta! O que foi isso, Ivan?
É o deputado Evaldo Gonçalves. Chegou aqui e eu lhe ofereci um vinho. Ele bebeu essa xícara e caiu pronto. Se não cuidar, vai morrer!
Antônio Simões se deu conta da tragédia.
– Ivan, pelo amor de Deus! Isso aqui não é vinho; é meu chá de alho com pimenta que eu tomo para o coração. E outra coisa: Este cidadão não é o deputado Evaldo Gonçalves coisa nenhuma! É o vigário da Palmeira!