E dizem que foi em Aroeiras.
Desafeto notório da língua pátria, depois de muitos empurrões e pisaduras, ele conseguiu empunhar o microfone naquele comício, regado a chuva, e levar o seu recado.
E abriu com chave de ouro, para delírio dos gatos literalmente pingados que ali se encontravam por falta de opção.

– Sinto em vosmicês uma confiança confiante na minha candidatura. Se não, estariam aqui ouvindo-me debaixo dessa chuva causticante…
Talvez, sendo conhecedor de algum caso no qual a consequência antecedeu causa, advertiu:
-E digo a vosmicês que se não votarem em mim, as consequências virão depois.
Em meio a uma risada coletiva, ele enfatizou que o problema do Brasil, são comida, escola e, saúde, quando na verdade esses componentes são uma solução, e não problemas. E continuou o massacre:
– Minha atuação na cama (leia-se Câmara) irá de encontro aos interesses de vosmicês e prometo trazer maiores problemas para a nossa cidade, se eleito…
E não há dúvidas que os trará, achando pouco os que já temos. E continuou:
– E sabem quem é o defensor dos pobres? E eu!…
– É eu não, analfabeto! – uma voz ecoou na molhada plateia. Ele replicou no mesmo tom.
Você o quê, agitador. Espião dos adversários!- Você o quê, agitador. Espião dos adversários!
Fez uma pausa, indiferente ao cutucão que levou nas costas de alguém lembrando que seu tempo ao microfone esgotara-se, e continuou, com ar didático:
– É isso mesmo. É o “dereito” que o povão tem de se manifestar na democracia. E vai ficar pior com essa tal de Constituição que acabaram de excomungar…
– Promulgar, analfabeto!
– Vosmicê não entendeu? Prá que me arremedar?
Foi anunciar seus colegas de coligação e ficou pensando num termo bonito. Matutou, matutou, olhando para o microfone e ante a expectativa da galera e soltou:
– Vote em mim e nos nossos candidatos! Eles serão os ex… ex. exterminadores do futuro!
Puxaram-lhe o microfone mas ele segurou bem. Recorreram a um meio nada ortodoxo para fazê-lo calar.
No ouvido do Cicero tupiniquim, passaram a mensagem:
– Para com teu discurso que o “ziper” da tua calça está aberto e partido está à mostra!
Ele preparou a despedida com uma declaração antológica:
– Não se preocupem com o que viram, meus eleitores. Passarinho morto não sai da gaiola.